Tuesday, November 29, 2005

Parecer

O parecer abaixo reproduzido como primeira mensagem deste blog, excepcionalmente extenso para um blog, reproduz o texto que eu elaborei recentemente para justificar a manutenção desta licenciatura. Este não será o único objectivo deste blog, já que ele se destina a proporcionar uma plataforma de discussão de todos os problemas inerentes e envolventes da licenciatura em apreço. Deve servir porém como pontapé de saída para os nossos debates.
Agora força, descasquem-lhe, escrevam o que vos vai na alma, mas sobretudo ponderem ser o mais possível construtivos.

Licenciatura em Negócios Internacionais

"Licenciatura em “Negócios Internacionais” (N.I.) na Universidade do Minho (U.M.) e em Portugal – Um desaparecido em combate na consolidação de designações?
Carlos Alberto Páscoa Machado, Professor Associado, recém-nomeado director da licenciatura em Negócios Internacionais da U.M.
Escola de Economia e Gestão, Departamento de Economia, Gualtar, Universidade do Minho, 4710-057 Braga, Portugal
Telef. 253604567, E-mail pascoa@eeg.uminho.pt

Este parecer/memorando, endereçado em primeira linha à Comissão Especializada do CRUP para a Educação e Formação Inicial, Pós-Graduada e Permanente, destina-se a ajudar a fundamentar a manutenção da acima referida licenciatura com a respectiva designação no leque de licenciaturas oferecidas pela Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho, no contexto do processo em curso de “Consolidação da Oferta Educativa” no Ensino Superior.

Uma licenciatura com esta designação foi lançada pela U.M. no ano lectivo 2001-2002 pela primeira vez em Portugal, tanto quanto julgamos saber. O seu carácter pioneiro e multidisciplinar expõe-a naturalmente a várias ameaças, especialmente perigosas nesta fase de recém-nascida, em termos de falta de reconhecimento de marca pelo mercado, tanto do lado da procura por potenciais alunos como da oferta de emprego para os seus licenciados.
O lançamento de novos produtos é acompanhado quase que por inerência por um elevado grau de incerteza nestes domínios. Neste caso as ameaças são potenciadas por processos de forte turbulência, tais como os que estão em curso no contexto da reforma de Bolonha e da consolidação das designações de licenciaturas oferecidas pelas universidades portu-guesas.
Das 145 designações de cursos identificadas actualmente nos domínios das Ciências Sociais e Comportamentais, Direito e Gestão e Administração, é suposto passarmos, como consta da lista “Ciências Sociais e Jurídicas” no documento elaborado por essa co-missão, a 16 licenciaturas de “formação inicial com acesso a formações complementares ou sequenciais (Mestrados)”, mais meia dúzia de “formação inicial com saída directa para a vida activa”. (Comissão Especializada do CRUP, 2005)
Das licenciaturas oferecidas pela escola de que faço parte só a de Negócios Internacionais é que seria afectada. Interessante parece revelar-se o facto de licenciaturas lançadas há poucas décadas pela U.M. e por outras universidades nacionais figurarem na lista das designações a manter. Algumas delas não teriam com certeza sobrevivido até aos dias de hoje, caso entretanto tivesse surgido um processo de consolidação como aquele com que nos deparamos actualmente.
Este processo (auto)regulamentador incorre no risco de, na sua ânsia de homogeneização, harmonização, consolidação e catalogação, coarctar iniciativas novas e portadoras de futuro, limitar exageradamente a necessária diversidade da oferta do ensino superior nacional e fazê-lo regressar ao estado de subdesenvolvimento em que se encontrava há escassas décadas. A tradição e os interesses instalados podem estar a sobrepor-se à inova-ção e à diversidade de ensino, o que estará longe das intenções dos membros dessa comissão.
Neste contexto parece-nos crucial chamar a atenção para o carácter eminentemente mul-tidisciplinar de muitas designações de primeiro ciclo que se propõe manter, pelo que não se nos afigura curial apoiar a argumentação no sentido da exclusão de Negócios Interna-cionais da lista de designações de formação inicial.
Para ilustrar algumas das considerações tecidas até agora limito-me a mencionar algumas das designações que no domínio das Ciências Sociais e Jurídicas fazem parte da lista da oferta de “Formação inicial com acesso a formações complementares ou sequenciais (Mestrados)” a manter, de acordo com a 7ª versão corrigida do documento produzido por essa comissão:
• Serviço Social
• Solicitadoria
• Técnicos Judiciários
• Ciências da Comunicação
• Ciências da Informação e Documentação
• Ciências da Educação
Ou ainda, respigando da lista de designações de “Formação inicial com saída directa para a vida activa:
• Contabilidade
• Secretariado
• Marketing
• Distribuição e Logística
• Turismo
• Jornalismo (?)
Sem desejar entrar em qualquer tipo de competição ou comparação menos prestigiante para qualquer das partes, permito-me duvidar de que Negócios Internacionais faria má figura numa lista como esta, tanto em termos de consagração como disciplina científica, como em termos de projecto de ensino superior ao nível de formação inicial, nomeada-mente de licenciatura.

Negócios Internacionais no ensino superior internacional

A nível europeu existe o “Diplome Européen de Management International” (DEMI) de que a Universidade do Minho faz parte há já alguns anos juntamente com outras 7 instituições do ensino superior.
Nos EUA foram criados e são financiados pelo Department of Education “Centers for International Business Education and Research (CIBERs)” em 30 universidades ao abrigo do “Omnibus Trade and Competitiveness Act of 1988”, de modo a incrementar e promover a capacidade de compreensão dos fenómenos económicos e empresariais internacionais.
A Academy of International Business (AIB), sedeada actualmente junto da Michigan Sta-te University, em East Lansing (EUA), com 13 “chapters” em várias regiões do mundo e a European International Business Academy (EIBA), enquadrada na European Founda-tion for Management Development (EFMD) e em colaboração próxima com o European Institute for Advanced Studies in Management (EIASM), em Bruxelas, desempenham a nível internacional o papel de principais instituições de enquadramento científico e pro-fissional. As revistas e outras publicações académicas e profissionais da especialidade são em número e qualidade elevadas. Limito-me aqui a mencionar o Journal of International Business Studies (JIBS) e a International Business Review, por serem as revistas “oficiais” daquelas duas agremiações, assim como o Journal of Teaching in International Business, publicado nos EUA pela Haworth Press, pelo que ele revela de interesse da comunidade académica por estas matérias, também ao nível do ensino universitário.
Em qualquer destas regiões são atribuídos graus/diplomas de Negócios Internacionais (International Business) por inúmeras universidades. Já no início da década de 90 Arpan, Folks e Kwok (1993, p.23) relatavam: “International Business majors were found in 24% (same in U.S.) of the undergraduate programs overall, compared to 20% at the master level (17% in the U.S.)” A sua amostra abrangia 1233 instituições educativas do ensino superior com programas de atribuição de grau em Negócios (Business), das quais 665 se localizavam nos EUA e as restantes se distribuíam por vários outros países. A taxa de resposta registada foi de 45%.
Já Luostarinen e Pulkkinen (1991, p.64) concentraram a sua atenção na oferta europeia e constataram: “Responses indicate that the International Business programme is the most common type of International Business education: 86 (44%) of total 197 institutions.” Enquanto que: “In Europe in general the graduate level is the most typical level (44%) of International Business education.” Eles notam: “Undergraduate level offerings in Interna-tional Business education is most typical in the United Kingdom, being 56% (50) of all 89 undergraduate level cases.” No caso de outros países, como os de língua alemã, este tipo de ensino era menos comum a este nível. (Luostarinen & Pulkkinen 1991, p.63)
Laughton (2005, p. 65) conclui mesmo: ”These developments suggest both a strong orga-nizing framework for the IB curriculum and also some features of a distinctive IB peda-gogy for delivering the curriculum. These are characteristics of an academic discipline which has reached a degree of maturity within the academy, and a conviction in terms of the contribution it can make, and a level of confidence in dealing with the complexities of curriculum design and delivery.”
Infelizmente o escasso tempo que decorreu desde a minha nomeação para director da licenciatura (em 22/11) não me permitiu compulsar dados mais recentes e completos, mas terei muito gosto em fazê-lo, caso me dêem essa oportunidade ainda em tempo útil. Tenho fundadas suspeitas porém que o nível de penetração do ensino de negócios inter-nacionais ao nível de licenciatura terá aumentado nos últimos anos.

Pro memo: A licenciatura de Negócios Internacionais na Universidade do Minho

A carga horária e as unidades de crédito estão distribuídas da seguinte maneira pelas diferentes áreas do saber: Economia e Gestão, cerca de 40% cada, sendo as restantes 20% partilhadas por Línguas Vivas, Relações Internacionais e Direito.
De acordo com informações recentes dos Serviços Académicos da U.M. estão actualmente inscritos: 13 alunos no 4º ano, 16 no 3º, 17 no 2º e 29 no 1º, embora destes últimos só 10 tenham sido admitidos na 1ª e 2ª fases do Concurso Nacional.
Neste ano de 2005 foram concluídas as primeiras 7 licenciaturas em Negócios Internacionais da Universidade do Minho, e penso que também do país. A escassez de tempo não me permitiu ainda averiguar da empregabilidade destes licenciados, embora esteja na minha agenda fazê-lo dentro em breve.
Os estudantes acabaram de criar o respectivo núcleo associativo, à imagem do que acon-tece com as outras licenciaturas da responsabilidade da EEG.

Conclusão

Penso ter através destas notas breves fornecido a essa comissão especializada elementos suficientes de modo a justificar a manutenção de “Negócios Internacionais” como uma designação de formação inicial (ou de 1º ciclo) e aproveito para me disponibilizar perante a comissão e seus membros para quaisquer esclarecimentos adicionais, que reputem necessários.

Bibliografia

Arpan, Jeffrey S., William R. Folks, Jr. & Chuck C. Y. Kwok (1993) “International Business Education in the 1990s: A Global Survey”, The Academy of International Business
Comissão Especializada do CRUP para a Educação e Formação Inicial, Pós-Graduada e Permanente (2005) “Ensino Superior. Consolidação da Oferta Educativa”, 7ª versão (corrigida), 14 de Novembro
Jain, Vinod K. et al (2005) “Curriculum and Program Internationalization: Looking Backward – Looking Forward”, Academy of Management 2005 Annual Conference, Honolulu, Hawaii
Laughton, David (2005) “The Development of International Business as an Academic Discipline: Some implications for Teachers and Students” in Journal of Teaching in International Business, vol. 16, nº 3, 47-67
Luostarinen, Reijo & Tuija Pulkkinen (1991) “International Business Education in European Universities in 1990”, Helsinki School of Economics and Business Administration e European International Business Administration